SAMURAIS CONTRA O HARAKIRI!
Relato de Pr. Mário Freitas(MAIS)Chegamos ao país do sol nascente na última 5a feira, dia 24/3. No dia 11 do mesmo mês, um terremoto de 9.0 atingiu a costa nordeste do Japão, deixando mais de 10.000 mortos, 15.000 desaparecidos e 250.000 desabrigados. Uma catástrofe sem precedentes na história de um país tão preparado para terremotos e outras crises.
Historicamente, a auto-suficiência e o orgulho são marcas desta nação. Sempre que foi assolado, atacado ou surpreendido, o Japão se reergueu com velocidade impressionante. Os próprios residentes reconhecem isso: o japonês vive como se não precisasse de ajuda. As lendas milenares registram a prática do harakiri (hara = barriga; kiri = cortar), ato suicida do guerreiro em situações de emboscada. Para não ser humilhado, escravizado ou não precisar de ajuda, o guerreiro se suicidava para lavar a honra.
Entre os anos 2000 e 2008, o Japão registrou uma média de 32.000 casos de suicídio por ano, isso sem contar a crise econômica que assolou o país a partir do fim de 2008, e a catástrofe desse mês. O governo japonês está em estado de alerta: os suicídios já tem ocorrido com particularidade nas regiões atingidas, e as escalas tendem a crescer.
Diante disso, só Jesus Cristo é a resposta. Pastores que residem no Japão compartilham a dificuldade em viver e pregar o evangelho por aqui. São 0,35% de cristãos num país xintoísta, budista e extremamente consumista. Para o japonês, próspero, tecnológico e independente, terminologias como perdão e salvação não fazem sentido. Ele não crê que precisa ser salvo. Afinal, é japonês: vive a vida perfeita.
Agora, porém, o quadro muda. Estivemos nas regiões afetadas pelas catástrofes, mais especificamente na província de Fukushima. Vimos parte da destruição, o trabalho das equipes de busca, a tensão nos abrigos e postos de socorro. Famílias que há quinze dias viviam em condição abastada, em belas casas litorâneas, agora se abrigam em salas de aula dos colégios públicos. Pânico. Mas há esperança!
A igreja brasileira é forte no Japão, mas até agora tem funcionado com uma igreja de caráter étnico, que visa atender os mais de 250 mil brasileiros residentes no país. Há pouca aceitação pela sociedade japonesa, e isso gera desgaste e, conseqüentemente, um grande desinteresse da própria igreja no que tange à evangelização dos japoneses. Claro que essa é uma leitura genérica; há belas exceções.
Com a catástrofe, vemos que nossa vinda aqui não foi em vão. Pudemos desafiar líderes da região centro-sul do país, e, pela graça de Deus, convencê-los acerca da oportunidade vigente. Podemos estar diante da maior colheita missionária da história do país. As vidas estão secas, sem esperança. Nos abrigos, os japoneses já se abrem para o abraço e o contato físico, o que seria, em outras ocasiões, culturalmente inaceitável. E a igreja brasileira percebeu. Assim, tivemos a companhia de 3 pastores nipo-brasileiros em nossa expedição às regiões atingidas pela radiação, e esses já organizaram viagens de suas igrejas para as próximas semanas.
Na província de Fukushima, conhecemos um homem de Deus: o pastor Akira Gomi, que já há muitos anos tem se esmerado na implantação do Reino naquela difícil arena. Hoje, sua igreja é um dos principais centros de distribuição para as vítimas da catástrofe, e as autoridades locais confiam em sua liderança e têm lhe conferido plena autonomia na condução dos procedimentos.
Antes de embarcamos de volta ao Brasil, teremos algumas reuniões importantes, com líderes brasileiros em Nagoya e Tókio. Também, nos reuniremos com organizações que têm realizado o trabalho pós-trauma, como CRASH e a Associação de Ministros Evangélicos do Japão. Chegamos ao Brasil, pela graça de Deus, no próximo final de semana.
Você pode orar e contribuir com o trabalho da MAIS no Japão. Aqui, vemos duas igrejas sofredoras: a igreja brasileira, que sofre todas as dificuldades referentes à condição do imigrante, mas que sofre, acima de tudo, pela falta de visão missionária, o que pode ser fatal num momento como esse; e a igreja atingida pela catástrofe, que precisa de vários tipos de apoio.
Em verdade, o apoio material tem sido conferido pelo governo. Os alimentos chegam na maior parte das regiões, e a reconstrução já começa a acontecer nas vias e prédios públicos. Mas falta gente pra abraçar, coisa que brasileiro sabe fazer como ninguém. Nos abrigos, práticas como o “esquenta-pés” e a apresentação de músicas e brincadeiras tem restaurado a alegria de muitas famílias. Em pouco tempo entre eles, arrancamos sorrisos e lágrimas. Dom de Deus; talento de brasileiro.
Assim, nosso projeto aqui consistirá em:
1) Viabilizar um treinamento formal para cristãos brasileiros, visando prepará-los para essa abordagem junto aos desabrigados. A missionária Margaretha Adiwardana chegará ao Japão na próxima semana com um grupo especializado, composto de missionários da rede SOS Global, com o fim de treinar igrejas em diferentes regiões do país.
2) Investir na ida de equipes brasileiras do centro-sul, especialmente das regiões próximas a Tókio e Nagoya, às regiões afetadas, para trabalhar nos abrigos. Nesse caso, investiremos fisicamente na logística dessas viagens. Estamos falando de trajetos de mais de 500km. Em cada viagem, pequenas compras e investimentos são feitos. Queremos enviar equipes todo final de semana nas próximas 12 semanas. A comunidade brasileira é composta de operários e profissionais que vivem com limitações financeiras no Japão, e que não pode deixar de fazer a obra de Deus por conta de limitações financeiras!
3) Auxiliar o Pr. Akira Mori em seu trabalho na região de Iwaka, província de Fukushima. Ainda, adentrar outras regiões junto às igrejas que têm funcionado como centro de distribuição, tudo através da igreja nipo-brasileira.